Esteves & Esteves

Brasil: um paradoxo cultural, social e político.

Quando obtive das autoridades minha cidadania italiana e recebi o passaporte italiano e, consequentemente, da União Europeia, fiz uma viagem à Itália com minha família até como forma de agradecimento e homenagem àquela nação que tantos imigrantes destinou ao Brasil em decorrência das Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Fato é que muitos elementos culturais e comportamentais dos italianos se assemelham com o dos brasileiros, sendo um deles a deliciosa perspectiva gastronômica, entre outros. Sempre que visito os países da União Europeia e, também, os EUA fica nítido, ao meu sentir, que o Brasil não tem uma posição definida culturalmente, socialmente e politicamente. Justifica-se: nosso sistema normativo e de Estado foi nitidamente influenciado pelos sistemas Europeus (Itália, França etc.), à luz dos princípios concebidos na Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade). Já, por outro lado, há também uma forte influência comportamental capitalista, liberal e consumerista decorrente do american way of life dos EUA, originado na Revolução Americana (liberdade de expressão, de pensamento, religiosa) que enseja um arremedo de estilo de vida dos americanos pelos brasileiros. Ocorre que, em vários momentos e perspectivas, esses dois grandes modelos são contraditórios e se chocam criando sérios problemas nas matrizes estruturantes de nosso Estado e um esgarçamento do tecido social e político. É como se apresentasse o seguinte paradoxo para exemplificar: se num comboio de carros de luxo circulando pelas ruas, o simpatizante do modelo socialista ao ver o comboio diria que aquilo é um absurdo e que os carros deveriam ser vendidos e que todos circulassem a pé ou de transporte público. Já o simpatizante do modelo liberal e consumerista ao ver o comboio de carros de luxo diria que o ideal seria que todos pudessem circular em um veículo de luxo. Eis o paradoxo do Brasil, pois pretendemos encontrar um ponto de equilíbrio nesses modelos, todavia, estamos longe de conseguir. Mas, por enquanto, mesmo tendo cidadania italiana, a minha cidadania brasileira vem me convencendo a ficar por aqui e conviver com nossos paradoxos!!